O homem na estrada não vê a si mesmo. Vê seu cavalo, vê seu caminho e não vê mais nada.
O homem em seu cavalo direciona seu olhar para a estrada e a estrada direciona seu caminho.
O homem na estrada vê a estrada, mas não vê o seu caminho.
Ele aprende a olhar a estrada e vê do que ela é feita. Vê no oceano amarelo partículas ínfimas que seu cavalo atropela. O homem na estrada não aprende que seu caminhar suja a si mesmo. Na estrada se pergunta como aquele pó tornou-se tão duro e como aquela dureza faz seu caminho. Mas não entende, ainda, porque o pó é leve, se a estrada é dura.
O homem segue, montado em seu cavalo, na estrada. Ele vê a estrada e não vê mais nada, nem mesmo seu caminho. O homem anda certo de sua ida sem nunca questionar sua volta. O homem na estrada, que não vê a si mesmo, pensa em como é reta aquela estrada sem saber onde vai acabar. Montado em seu cavalo já não vê só reta. Vê também a forma de seu cavalo que segue certo, na dureza da estrada, indo reto, onde quer que vá. O homem na estrada, montado em seu cavalo, ignorante, só vê a reta estrada sem nunca ver seu horizonte. O homem na estrada já sente não ter culpa sobre seu olhar.
O seu olhar é reto como a estrada e a estrada em linha reta, lhe dá mais retas para olhar. Nem cavalo nem homem tem mais disposição em enxergar. As linhas retas já são a sua estrada. O homem se mantém em seu olhar e em sua direção. O seu cavalo continua na estrada, ignorante de algum horizonte, e segue troteando o pó.
A estrada fez o homem dormir em seu cavalo que seguia na estrada. Quando acorda já não sabe mais o que é sonho ou realidade. Sonhara com uma estrada ignorante de si mesma e um cavalo solitário lhe atravessava. Já cansado de sua inexistência, empenha-se em ouvir a estrada. Mas já não há mais sons para ouvir.
A estrada sedou a estrada, sedou o som da estrada e sedou o pó na estrada. Mas o homem em seu cavalo permanece na estrada sem ver seu caminhar. O pó, a estrada, o homem em seu cavalo e o horizonte vivem na mesma hora, porém, sem nunca se encontrar. Não há busca na estrada, tão pouco resposta. A estrada tem apenas linhas retas e desconhecimento. E o homem segue em frente, porque outro lado não há. Seu olhar e seu cavalo nunca saberão se já não houveram outros lados. Menos ainda, se a sua própria estrada já não é o próprio lado.
(10/2017)
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