São oito horas da noite e o sol ainda não despencou do céu. Continua com seu trabalho infinito na órbita da terra, enquanto, de cabeça baixa, aquela criatura vê no canto da folha amarelada e carcomida a inscrição colorida do seu número de série. Ainda não anoiteceu, mas está quase. Ainda não comeu, mas já está quase.
Um berro seguido de um nervoso abrir de portas é o sinal de sair de casa e ir para a escola. Acordar todos os dias. Acordar e nascer de novo. Todos os malditos dias acordando e trocando de roupa; todos os malditos dias acordando e limpando aquela ramela amarela dos olhos, pois houve choro nas noites anteriores. E não sabemos quantas chances mais serão precisas até que ramelas amarelas sejam descontadas nas limpas orelhas de um travesseiro encardido que já não suporta mais o seu trabalho de todas as noites. Cada dia uma ramela diferente.
Ele vai à escola e quando volta já não é mais o mesmo. Percebe pelo reflexo da chave que no seu rosto há uma penumbra negra. Seu movimento é apressado e a sua expressão é severa. Se questiona porque na vida somos igual peças de xadrez.
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